A creatina é um dos suplementos mais estudados e utilizados no mundo, principalmente por seus efeitos ergogênicos. No entanto, sua aplicação na saúde feminina ainda é subestimada – apesar de os benefícios serem notáveis e, muitas vezes, superiores aos observados nos homens. Estudos recentes apontam que, desde o ciclo menstrual até a menopausa, a suplementação com creatina pode ser uma ferramenta poderosa para mulheres que desejam melhorar desempenho físico, saúde cerebral e bem-estar geral.

Por que as mulheres precisam mais de creatina?
O corpo feminino possui, naturalmente, 70 a 80% menos reservas endógenas de creatina que o masculino. Além disso, mulheres consomem menos creatina na dieta por ingerirem menos proteínas animais. A creatina participa da produção de energia (ATP), função muscular e também atua no cérebro, influenciando memória, humor e resistência à fadiga.
Essas diferenças fisiológicas indicam que as mulheres podem se beneficiar significativamente com a suplementação, especialmente em momentos de maior demanda metabólica, como menstruação, gestação, puerpério e menopausa.
Efeitos da creatina no ciclo menstrual e fertilidade
Durante o ciclo menstrual, há flutuações hormonais que alteram a produção e utilização de creatina. A fase lútea (pós-ovulação), caracterizada por altos níveis de estrogênio, aumenta a degradação proteica e reduz a capacidade de armazenamento de carboidratos – o que pode prejudicar o desempenho físico e mental.
Suplementar creatina nesse período pode ajudar a preservar massa magra, melhorar a performance e reduzir os impactos negativos sobre o humor e a cognição. Além disso, alterações nos níveis de creatina quinase (CK) também foram observadas em gestantes e mulheres com amenorreia, sugerindo que esse nutriente desempenha papel fundamental na regulação energética do corpo feminino.
Criando força: pré-menopausa e desempenho atlético
Para mulheres jovens e ativas, a creatina aumenta força, potência muscular e resistência anaeróbica, sem provocar o temido ganho de peso. O que pode ocorrer é um leve aumento temporário de hidratação intracelular – um efeito positivo para a saúde celular.
Estudos com atletas e praticantes de musculação mostram ganhos de até 25% na força, aumento de massa magra e maior capacidade de recuperação entre treinos. Mesmo em mulheres treinadas, o uso de creatina junto com programas de resistência mostrou melhores resultados que o treinamento isolado.
A creatina na gravidez: proteção ao feto e à mãe
Durante a gestação, o consumo e a necessidade de creatina aumentam significativamente. Pesquisas em modelos animais sugerem que a suplementação pode proteger o cérebro fetal contra hipóxia e melhorar o desenvolvimento neurológico.
Embora ainda faltem estudos clínicos em gestantes humanas, os dados atuais indicam que a creatina pode ser uma estratégia nutricional segura e acessível para prevenir complicações pré e pós-parto relacionadas à depleção energética.
Menopausa: músculo, osso e proteção cerebral
A menopausa traz consigo perda de massa muscular, óssea e aumento da inflamação sistêmica – condições que a creatina pode ajudar a atenuar. Estudos em mulheres pós-menopáusicas mostram que doses maiores de creatina (0,3 g/kg/dia por 7 dias) aumentam força muscular, massa magra e melhoram a funcionalidade física, especialmente quando associadas ao treinamento resistido. Lembrando que esta é uma média e vc deve consultar um nutricionista para sua dose ideal.
Os efeitos sobre a densidade mineral óssea ainda são controversos, mas a maioria dos estudos demonstra que a combinação com exercícios de resistência potencializa os benefícios para o sistema musculoesquelético.
Creatina para o cérebro feminino: humor, depressão e cognição
Mulheres têm o dobro de chance de desenvolver depressão ao longo da vida. Isso está relacionado à sensibilidade cerebral às oscilações hormonais, como no ciclo menstrual, pós-parto e menopausa.
Estudos mostram que a creatina melhora o metabolismo energético cerebral, aumenta a produção de neurotransmissores e reduz sintomas depressivos mesmo em mulheres que já usam antidepressivos. Os efeitos começam a aparecer em duas semanas, bem antes do esperado com medicações isoladas.
Além disso, a creatina melhora a memória, atenção e resistência ao estresse mental, especialmente sob privação de sono – condição frequente entre mulheres em fases de grande sobrecarga física e emocional.
Segurança: efeitos colaterais e mitos
A creatina é segura, mesmo em uso prolongado, e não afeta rins, fígado ou pressão arterial em mulheres saudáveis. Os efeitos adversos mais comuns (como desconforto gástrico) são raros e geralmente ligados ao uso incorreto.
O mito de que ela engorda ou “retém líquido” no sentido negativo não se sustenta cientificamente. O ganho de água intracelular contribui para hidratação celular e síntese proteica.
E diante destes fatos, podemos concluir
A creatina é um suplemento seguro, acessível e cientificamente validado que oferece múltiplos benefícios à saúde feminina em todas as fases da vida. Vai muito além do esporte, sendo relevante para saúde cerebral, prevenção de sarcopenia (diminuição dos músculos), melhora do humor e até suporte na gravidez.
Se o seu nutricionista não trabalha com a creatina como aliada terapêutica pode estar perdendo uma oportunidade promissora. O uso inteligente pode transformar a forma como cuidamos da performance, da mente e do bem-estar feminino.
Tenha um excelente dia!
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Referência
Smith-Ryan AE, Cabre HE, Eckerson JM, Candow DG. Creatine Supplementation in Women’s Health: A Lifespan Perspective. Nutrients. 2021;13(3):877.
Sobre o Autor
Nutricionista
Fitoterapeuta
Divulgador Científico sobre Saúde